E foi assim que ela nasceu

E foi assim que ela nasceu

O Pródromo

 

Em 23 de janeiro, uma segunda-feira, a Carol começou a sentir contrações, variavam no tempo de duração e no intervalo entre elas, mas mesmo assim corremos para a maternidade para avaliar. Diagnóstico: Ela estava no pródromo, é como se fosse um pré trabalho de parto que pode evoluir para o trabalho de parto ou simplesmente parar.
Na terça a Carol passou o dia sentindo as mesmas contrações, mantendo a mesma situação de intervalo, duração e intensidade, no final do dia fomos ao obstetra e o quadro permanecia o mesmo e a Valentina ainda não estava encaixada. De qualquer maneira marcamos a cesárea para a quinta-feira a noite, até então a Carol não tinha decidido sobre o parto normal ou cesárea, porém a intensidade das contrações a fizeram decidir pela cesárea, que ao final seria a única opção possível.

Os planos da mudança de vida e a nova mudança

Saímos do consultório cheio de planos para nos despedirmos de um momento de nossa vida e iniciar outros, todos os planos possíveis para ser o marco dessa mudança, incluindo o vinho da despedida na quarta a noite acompanhado de um jantar que ainda decidiríamos o cardápio. Antes de ir para casa, passamos em uma feira gastronômica para comer um Kurtos Kulacs, tradicional doce do leste europeu, que conhecemos em nossa passagem por Budapeste e há pouco tempo havíamos descoberto que tinha a venda em Curitiba.
Ainda na terça nossos planos começaram a mudar. A intensidade das contrações aumentaram, o intervalo entre elas diminuiu e a duração de cada contração aumentou, mas tudo ainda sem um ritmo que nos fizesse ter a certeza que a Carol estivesse em trabalho de parto. Nesta hora esquecemos de uma observação muito importante do obstetra, “Caso você tome um buscopan, tome bastante líquido e as dores não passem você está em trabalho de parto”, até a 1h da manhã a Carol já tinha tomado dois e as dores só aumentavam.

“Caso você tome um buscopan, tome bastante líquido e as dores não passem você está em trabalho de parto”

 

A maior aventura de nossas vidas começa aqui

 

Pouco antes das 3h da manhã eu convenci a Carol que deveríamos, ao menos, ir até a maternidade novamente para avaliar a situação, apesar de termos a certeza que ela permanecia no pródromo. Nos 20 minutos entre sair de casa e ir até a maternidade a Carol teve 4 longas contrações e lógico que a avaliação foi, “Você está em trabalho de parto e já tem 4 dedos de dilatação”, nesta hora um misto de emoções surgiram e a lembrança que a mala da maternidade havia ficado em casa só tornou a situação ainda mais urgente.
As 3h18 eu saí da maternidade para buscar a mala e as 3h59 nossa filha estava em meus braços na sala de parto, não lembro muito bem de como as coisas aconteceram neste intervalo, mas o mundo parou quando fiquei com minha filha pela primeira vez em meus braços. Sempre tive dúvidas de como me comportaria nesta hora, não acreditava na minha capacidade de conseguir assistir ao parto, mas a adrenalina do momento me fez esquecer de tudo isso, aquele cara que não tinha certeza se saberia pegar um recém-nascido no colo tinha deixado de existir em um passe de mágicas, todas as dúvidas existiam na minha cabeça, mas a certeza de que superaria cada uma delas, que superaria cada medo que a paternidade traria eram maiores.

A notícia e o nascimento, o tempo entre estes dois momentos

Mas vocês devem estar se perguntando, e nesse intervalo de 41 minutos, entre a notícia de que a Valentina iria nascer e seu nascimento, não aconteceu nada?

Para essa pergunta eu responderia, é bem provável que estes tenham sido os 41 minutos mais intensos da minha vida. Saí da maternidade o mais rápido possível com uma lista de coisas para pegar em casa. Era a mala da Valentina, a mala da Carol, enfeite da porta da maternidade, cuia, erva, garrafa térmica, dentre outras coisas. Ainda pensei em passear com o cachorro, que dentre todos acontecimentos eu não sabia quando iria ganhar o próximo passeio.
No caminho liguei para meus pais, minha irmã e para os dindos da Valentina para avisar que ela nasceria logo e repassava a lista a todo instante na memória para não esquecer nada, fazia e refazia o caminho de onde pegaria cada uma das coisas para conseguir ser o mais rápido possível. Já em casa, correndo para organizar as coisas a Carol me liga: “Para tudo e voa pra cá que estou indo para sala de parto”. Nessa hora meu mundo parou, será que vai dar tempo? Será que não vou assistir o parto da minha filha? Será que tudo que planejamos vai dar errado e eu não vou poder segurar a mão da minha esposa para dar força a ela? Será que não ouvirei o primeiro choro da minha filha? Eram tantas dúvidas que teriam que ter uma única resposta que só peguei as coisas que estavam a minha frente e voei para a maternidade.

 

“Para tudo e voa pra cá que estou indo para sala de parto”

Cheguei, parei o carro, juntei as coisas e corri. Deixei as coisas em qualquer sofá dentro da maternidade e voei para dentro do centro cirúrgico. Ali uma enfermeira já me aguardava com as roupas na mão e foi me conduzindo para eu me trocar, nessa hora ouvi o obstetra “O pai chegou! Podemos começar”. Entrei na sala, olhei para a Carol, sorrimos um para o outro, ela perguntou: “Não esqueceu da câmera né?”, logo o anestesista me mandou preparar a câmera e em poucos minutos a Valentina chorava nos braços do médico e em instantes ela estava em meu colo.

“Não esqueceu da câmera né?”

 

Assim me tornei pai

 

Naquela hora em que peguei minha filha no colo pela primeira vez eu me senti pai plenamente. O marido assustado e com dor no peito a cada contração daquela terça-feira, que derramava lágrimas a cada dor que a Carol sentia, e sentia com ela cada uma das dores do parto, tinha evoluído e se tornado um pai. Um pai cheio de medos e cheio de coragem ao mesmo tempo e com uma força sobre-humana que me leva a percorrer a paternidade cheio de orgulho em poder dizer sou Pai.
Ao final de tudo isso, apesar de toda a correria e nervosismo gerado pelo nascimento da Valentina, eu costumo dizer: “Pelo menos temos uma ótima história para contar, sem planejamento, nem programação, tudo na correria feito da melhor maneira possível e com todo amor que nos cabia no peito”.

Até a próxima postagem.