Filhos: Os primeiros dias com nossa menina

Filhos: Os primeiros dias com nossa menina

Reorganizar a vida nos primeiros dias

Passada a correria do nascimento foi preciso reorganizar um pouco a vida e, primeiro de tudo, descansar. Mais de 24 horas acordado e com a adrenalina lá em cima fui dar um pouco de atenção para o cachorro, que com toda a correria ficou meio perdido em casa, e depois descansar.

Nessa hora o conflito interno é grande, a vontade é não sair da maternidade, mas ao mesmo tempo não é possível interromper a vida lá fora. Era preciso resolver as questões burocráticas de licença paternidade, organizar a casa para receber o bebê, cuidar do cachorro, montar as lembranças da maternidade que não estavam concluídas dentre outras coisas que ainda estavam pendentes.

Resolvidas algumas coisas voltei para a maternidade logo após o almoço e a primeira noite com a Valentina seria do casal, inexperiente, mas completo e cheio de medos que vieram juntos ao nascimento.

Aprendendo, aprendendo e aprendendo

Já na primeira noite precisei fazer tudo isso e parece que fazia com uma maestria que desconhecia que eu tinha

Eu que jamais havia pego um recém-nascido no colo agora precisava trocar fralda, auxiliar nas mamadas, tirar e colocar no berço, acalmar o choro, fazer dormir…, tarefas aparentemente simples, mas que mediante toda a situação ganham uma complexidade enorme.

Já na primeira noite precisei fazer tudo isso. Fazia com uma maestria que desconhecia, trocar a fralda foi atrapalhado, mas foi uma tarefa fácil e descomplicada, assim como colocar para arrotar, tirar e colocar do berço, entregar ela para a Carol amamentar e até mesmo acalmar após um choro ou outro que por hora aparecia.

Saindo da maternidade

Os “problemas” começaram no dia em que saímos da maternidade, até parece que é proposital, nesse dia o leite da Carol desceu com tudo, os peitos cresceram, endureceram e doíam e isso dificultava a amamentação. Sem muita perspectiva de melhora saí correndo buscar um extrator de leite para retirar o excesso, o extrator elétrica prometia ser a solução, mas quem disse que deu conta, o colostro por ser mais grosso e denso não era drenado de jeito nenhum, poucos mL eram retirados em um tempo longo.

O banho, que eu queria dar o primeiro, foi atrapalhado de tal maneira que quem acabou dando foi a Carol. A Valentina se desesperou, se agitou e, sem jeito, não conseguíamos achar a melhor posição para o banho. Esta situação continuou por alguns dias até pegarmos o jeito, ela se acostumar conosco e ganharmos confiança. De nada adiantaram os inúmeros vídeos do youtube que ensinavam como dar banho, tivemos que aprender na prática o que era melhor para nós e melhor para ela.

A vida em modo automático

As coisas acontecem, parece que automaticamente, dar mama, trocar fralda, dar banho, arrumar a casa, cozinhar vão acontecendo sem que você perceba ou registre essas informações

Todo mundo com quem conversamos diz não lembrar de como eram esses primeiros dias e o que digo hoje é que concordo com cada um deles. As coisas acontecem, parece que automaticamente, dar mama, trocar fralda, dar banho, arrumar a casa, cozinhar vão acontecendo sem que você perceba ou registre essas informações.

O cansaço bate, mas a adrenalina faz você suportar bem todas essas atividades, o seu humor se altera e aparecem todo tipo de “especialista” dando as mais absurdas dicas do que fazer para acalmar, para amamentar, para dar banho e etc., mesmo aqueles que não tem e nem nunca pensaram em ter filhos aparecem com as mais mirabolantes sugestões.

Dar ou não dar chupeta

Isso nos fez repensar várias decisões que já estavam tomadas

Talvez o episódio mais emblemático dos primeiros dias de vida de nossa filha foi o dia em que decidimos dar a chupeta a ela. Durante toda a gestação da Carol pensávamos em não dar chupeta a ela, tínhamos nossas razões e eram totalmente justificáveis, na primeira consulta a pediatra questionamos sobre o tema e ela nos disse que não era necessário, sendo indicado somente a crianças que tinham necessidade muito grande de sucção e isso só corroborou nossa decisão e até o momento nada indicava a necessidade de sucção.

Eu voltei a trabalhar numa terça-feira, após 20 dias de licença paternidade, e minha sogra havia ido embora no domingo. Acometido por aquela falta de memória da vida automática que vivíamos, não me recordo exatamente se tudo aconteceu na quarta ou quinta-feira, mas em uma dessas noites a Valentina começou a chorar incontroladamente e nenhum de nós dois conseguíamos acalmá-la, nessa hora sozinhos parecia que estávamos andando em círculos sem saber o que fazer até que ela finalmente parou de chorar e dormiu, com um porém, ela chupava o dedo e se não era para chupar chupeta imagina o dedo.

Nossa decisão nessa hora foi tirar o dedo dela da boca, o que poderia acontecer com esse ato, nós pensamos? No exato momento em que tiramos o dedo ela ficou vermelha e chorava brava, mas tão brava que ninguém conseguia acalmá-la novamente, neste hora começamos a cogitar a comprar uma chupeta.

No dia seguinte novamente ela estava chorona, irritada e inquieta, foi aí que iniciamos a busca por qual chupeta comprar. Passamos o dia inteiro pesquisando e optamos por comprar a chupeta soothie da Philips Avent , que para facilitar um pouco não é vendida no Brasil. Nessa hora corremos para mercado livre, olx e facebook até encontrar alguém que vendia para poder ir buscar. Chupeta em mãos, corri para casa e testar o que mudaria em toda essa irritação de nossa guriazinha.

O fato é que nesta hora compreendemos o porquê da chupeta se chamar pacifier em inglês, uma segunda tradução para a palavra é pacificador e foi exatamente isso que aconteceu com a Valentina. Ao colocar a chupeta nela seu comportamento mudou instantaneamente o choro sumiu e o sono veio e nós choramos. Ao mesmo tempo que bateu um sentimento de alívio veio um sentimento de culpa, por impor a ela uma decisão nossa que tinha sido tomada muito mais por um pensamento de conforto futuro do que por qualquer outro problema que possa estar atrelado ao uso da chupeta.

Isso nos fez repensar várias decisões que já estavam tomadas, tendo em vista que foram tomadas pensando somente em nós sem considerar se seria bom ou ruim para a terceira parte envolvida, nossa filha!

Depois disso reconsideramos inúmeras decisões que afetavam nossa relação de pais e filha e que poderiam até certo ponto construir uma relação mais fria do que a relação amorosa que temos hoje.

Cada dia sim é uma evolução e um aprendizado, a única certeza que temos é que temos uma linha guia definida para a educação e construção de caráter de nossa filha, mas nada que impeça ela de sofrer alterações e adaptações, afinal de contas estamos aprendendo com ela a ser pais e na tentativa e erro queremos ser os melhores pai e mãe que ela pode ter e que ela não se arrependerá de ter escolhido ser nossa filha.